sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

quero me tornar estúpida

já estou passos adiante de antoine. sou muito menos inteligente que ele, logo muito mais perto de me tornar estúpida. por isso, por não ser capaz de produzir frases tão conscientes e bem elaboradas, uso as palavras desta personagem do livro, "como me tornei estúpido" (martin page), para ilustrar o que se passa no momento dentro de mim.

"Eu tenho a maldição da razão; sou pobre, solteiro, depressivo. Há meses reflito sobre a doença de refletir demasiadamente e estabeleci com toda a certeza a correlação entre a minha infelicidade e a incontinência da minha razão. Pensar, tentar compreender nunca me trouxe nenhum benefício, mas, ao contrário, sempre atuou contra mim. Refletir não é uma operação natural e fere, como se revelasse cacos de garrafa e arames misturados com o ar. Eu não consigo deter o meu cérebro, diminuir seu ritmo. Sinto-me como uma locomotiva, uma velha locomotiva que se precipita nos trilhos e que não poderá jamais parar, porque o combustível que lhe dá a sua potência vertiginosa, o seu carvão, é o mundo. Tudo o que vejo, sinto, escuto se engolfa no forno do meu espírito e o impele e faz funcionar a pleno vapor. Tentar compreender é um suicídio social, e isso significa, já não desfrutar a vida sem sentir-se, a contragosto, e ao mesmo tempo, uma ave de rapina e um abutre que despedaça os seus objetos de estudo."


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